Quando eu resolvi tirar carteira de
moto e, posteriormente comprar uma, obviamente houveram muitas
expectativas. Uma das primeiras foi em relação aos gastos com
estacionamento, abastecimento, manutenção e seguro; e a outra era
em relação em como seria o meu uso da moto.
A princípio minha idéia era pilotar apenas aos finais de semana em percursos curtos, e ir aumentando a
distância gradativamente. Em um futuro não muito distante, passar
a usá-la para ir para o trabalho, nem que fosse apenas algumas vezes
na semana, ou pelo menos no dia do rodízio do carro.
Como desde pequeno tive contato
com motos, pois meu pai sempre teve uma, muitas outras expectativas
já haviam automaticamente sido desvendadas. Mas ainda assim, meu
contato com as duas rodas era como passageiro, e nunca como piloto.
Durante essa fase da minha vida,
aprendi a me comportar na moto, imitando os movitmentos do piloto ao
fazer as curvas, me mantendo firme e atento a movimentos bruscos e
freadas e sem me movimentar demais para não comprometer o equilibrio
do piloto.
Porém, mesmo já tendo uma certa
experiência, isso tudo aconteceu no interior de São Paulo, e em um
tempo em que o trânsito não era muito grande, as ruas eram
razoavelmente boas e os carros não eram tão velozes e grandes.
Cenário esse que era muito diferente dos dias atuais, quando comprei minha
motoquinha 125 cilindradas na capital de São Paulo, onde o trânsito e a cidade são maiores, com carros mais potentes e grandes,
e o que eu considero a pior mudança, sinto que os motoristas (e
motoqueiros) são mais apressados e impacientes.
Não que isso seja uma crítica a São
Paulo ou que eu esteja insinuando que o interior tenha um trânsito
melhor. Mas qualquer um que conheça bem a capital em comparação às cidades do interior sabe que São Paulo (e creio que o mesmo
ocorra em outras capitais) tem um ritmo bem mais acelerado por
natureza. Muita coisa acontece aqui, começa aqui, e culturalmente as pessoas tem essa pressa para tudo, seja no metrô, nas ruas ou nas empresas.
Eu sei que muita gente acha isso um ponto negativo, assim como muitos
paulistanos que conheci nesses quas 14 anos comumente dizem que “aqui
é assim mesmo”. Enfim, apenas um esclarecimento para evitar mal
entendidos :)
A verdade é que, estando em uma grande
cidade ou não, o primeiro contato real com uma moto após sair da
auto escola é empolgante e ao mesmo tempo tenso.
Pelo menos aqui em São Paulo, no tempo
em que fiz as aulas de pilotagem, o aprendizado é bastante focado no
equilíbrio e destreza na hora de fazer as curvas, saber a hora de
reduzir a velocidade e de acelerar e controlar a embreagem em
conjunto.
Até mesmo no dia da prova, não
passamos da primeira marcha, não é preciso dar seta e nem há
contato com o trânsito da rua. Creio que este último seja por não
haver uma maneira de se controlar a moto com um segundo jogo de
embreagem e freios como acontece em carros de auto escola, no lado do
passageiro.
Por mais óbvio que esses detalhes
possam parecer, muitos deles não passaram pela minha cabeça até eu comprar a moto, que no meu caso era usada, e tive que viajar,
logo de cara, da casa do ex dono até a minha casa. E não era um
trajeto muito pequeno, além de ser um percurso que eu não conhecia
quase nada! Ah, e eu esqueci completamente de comprar um capacete,
que se não fosse pelo meu sogro ter me lembrado um dia antes de eu
buscar a motoca, teria que acabar adiando para outro dia para buscar
a pequena.
Então, lá estava eu, super feliz com
a nova aquisição! Pedi algumas orientações básicas ao ex dono,
que foi muito solícito (e continua sendo até hoje) e parti para o
meu primeiro grande desafio! Agora era apenas eu, sozinho, sem
instrutor, sem poder andar só de primeira marcha, no meio de um
monte de carros, longe de casa, e que eu nem sabia exatamente para
que direção estava!
Decidi que adotaria a mesma estratégia
que usei quando comecei a andar de carro: andar tranquilamente pela
faixa da direita em velocidade reduzida. Tentei pegar o máximo de
semáforos fechados possível, pois assim teria tempo de pensar
melhor no trajeto que acabara de passar, os pequenos erros que
cometi, se era seguro acelerar um pouco mais, acertar o retrovisor da
melhor maneira possível, etc.
Comecei a sentir uma dificuldade enorme
entre olhar para frente e para o painel da moto e retrovisores. Na
auto escola normalmente não tinha preocupação em olhar para outro
lugar que não fosse a pista, pois nem para o retrovisor eu precisava
olhar. Descobri que estava usando o capacete de forma incorreta,
tentando manter a sua base em paralelo com meus ombros. Reparei em
outros motoqueiros com capacetes semelhantes que ele deveria ficar
bem encaixado à cabeça e que a parte de baixo deveria proteger bem
o meu queixo, com sua base em um ângulo de uns 30 graus em relação
ao meu ombro. Então consegui ver com perfeição o trânsito e o
painel sem ter que abaixar tanto a cabeça.
Meu primeiro grande inimigo foram os
motoristas impacientes e apressados, que buzinaram muitas vezes
quando eu deixava a moto morrer ao sair quando o semáforo abria, ou
outros motoqueiros que ficavam acelerando a moto incessantemente
quando eu ficava no caminho deles. Se isso já me incomoda quando
estou no meu carro, imagine estando pela primeira vez em cima de uma
moto! Senti uma pressão enorme, mas com o passar do trajeto, comecei
a ignorá-los e a relaxar mais, ficando mais concentrado no trânsito, e
gradativamente corrigindo meus erros.
Andei do começo ao fim como se
estivesse de carro, sem andar no corredor, nem tentar ultrapassar
outros veículos ou fazer qualquer manobra básica para uma moto.
Como nunca havia trocado de marcha,
senti uma certa dificuldade, já que a primeira marcha é para baixo,
e as demais para cima, sendo o ponto morto (ou neutro, como a maioria
das pessoas gosta de dizer) entre a primeira e segunda marchas.
Senti um pouco de dificuldade em
manusear as marchas na hora de reduzir a velocidade e parar a moto,
que diferente dos carros, não dá para pular de qualquer marcha para
o ponto morto, e sim ter que ir descendo até a segunda marcha e,
finalmente, para o ponto morto.
Foi então que percebi uma outra
dificuldade, que era achar o ponto exato entre a primeira e segunda
marchas para deixar em ponto morto. (Para ser sincero, ainda tenho um
pouco de dificuldade...).
Como estava preocupado com o trânsito,
optei por deixar a moto engatada com a embreagem pressionada, mesmo
sabendo que é uma má prática que acaba comprometendo a “saúde”
da moto (e também do carro), mas naquele momento essa era a minha
melhor aposta.
Outra novidade foi o uso da seta, que
não era necessário na auto escola. Não demorou muito para me
acostumar a usá-la. O problema foi na hora de deixar de usá-la,
pois, diferente dos carros, onde a seta desliga automaticamente quando
a direção gira no sentido contrário ao da seta, na moto esse
processo era manual. Aposto que muitas buzinadas e aceleradas que
tomei de outros motoristas foram por ter ficado vários quarteirões
com a seta ligada!
Quando já estava há poucos kilometros
de casa, peguei um semáforo demorado, e senti meus braços e cabeça
queimando por causa do sol. De carro isso não seria um problema,
pois eu estaria coberto contra o sol, sem contar que poderia ligar o
ventilador (que pena que não tenho ar condicionado...).
Nesse momento, me lembrei de que a
viseira do capacete pode ser aberta com a moto parada, e não pensei
duas vezes! Também descobri que o semáforo vermelho é uma boa hora
para relaxar o corpo, esticar as pernas e braços e me ajeitar no
banco.
Conforme as lições aprendidas na auto
escola, não deixei o pé direito no chão, mas logo percebi que isso
não era muito prático, já que, com a moto parada, o câmbio de
marchas fica do lado esquerdo, e que eu poderia manter a moto parada
com o freio da mão direita. No final das contas isso não fez tanta
diferença, já que eu estava mantendo a moto engatada com a
embreagem puxada, mas imaginei que em breve teria que aprender a
deixá-la em ponto morto, e que com isso, teria que ficar com o pé
direito no chão para engatar a primeira marcha no momento em que o
semáforo abrisse.
Quando estava quase chegando em casa,
percebi outra novidade: o asfalto acidentado e cheio de buracos faziam a moto trepidar as vezes, ou se deslocar
levemente para o lado. Por muito tempo depois do primeiro dia, achei
que a moto poderia estar com algum problema, até aprender que era
normal, e que eu precisava manter as mãos mais firmes no guidão
quando fosse passar em áreas mais acidentadas.
Finalmente, cheguei em casa, são e
salvo, e bastante aliviado. Passei as horas seguintes pensando no
primeiro passeio, e conclui que, visto que estou na grande selva de
pedras que é São Paulo, o trânsito frenético e seus motoristas
desesperados, e a grande fama que as motos carregam, tudo ocorreu bem
melhor do que eu esperava.
Os outros motoristas são bem menos
monstruosos do que eu esperava. A minha pilotagem foi bem mais suave
do que eu achei que seria.
No final das contas, a maioria das
minhas preocupações foram tranquilas ou nem aconteceram, porém,
tive pequenas surpresas das quais eu não contava, mas que também
foram muito tranquilas.
É claro que a cada vez que eu saio de
moto, aprendo uma coisa nova, uma manobra nova, aumento mais a minha
segurança na pilotagem, mas de maneira geral, andar de moto é muito
mais simples do que a maioria das pessoas pensa que é.
Não dá pra negar que em cima de uma
moto o condutor fica bem mais exposto do que em um carro, mas não
concordo quando as pessoas dizem que qualquer acidente com a moto é
fatal. Assim como no caso dos carros, se o condutor for responsável
e cauteloso, nenhum acidente irá acontecer, ou, caso aconteça, não
deve ser fatal.
Quando eu vejo um motoqueiro andando a
80 km por hora em um corredor estreito, eu acho que aquela pessoa
está correndo um grande risco, e que se ele ou um outro motorista
cometer um erro, o motoqueiro certamente levará a pior.
Ainda podemos ser vítimas de
terceiros, ou seja, um ou mais veículos com motoristas negligentes
que acabam comprometendo outras pessoas que não tinham nada a ver
com o acidente. Para mim, esse é o grande desafio do bom motoqueiro:
saber prever os movimentos dos outros carros, se certificar de tudo
que está acontecendo à sua volta, e SEMPRE respeitar as leis de
trânsito. O que para um condutor de carro pode representar uma
simples multa e alguns pontinhos na carteira, pode custar a vida
de um motoqueiro.
Se você está considerando adquirir
uma moto algum dia, mas ainda tem medo, a minha sugestão é que você
faça todas as aulas de pilotagem na auto escola, bombardeie o seu instrutor
de perguntas, mesmo que elas não tenham relação com a prova.
Se não se sentir seguro, faça mais
aulas do que as obrigatórias, e quando se sentir confiante, faça a
prova. Não tenha pressa, não se baseie pela experiência dos outros
ou o quão rápido eles passaram na prova. Cada pessoa tem um ritmo,
preocupações e medos diferentes.
Se depois de tudo isso você ainda não
sentir firmeza, espere um tempo e repense se você acha ou não uma
boa idéia andar de moto. O mais importante é sentir prazer e
reconhecer as vantagens de se andar de moto. Se você não sentir
isso, não arrisque a sua vida, e seja feliz!
Espero ter esclarecido bastante sobre
os primeiros passos com a motoca, e tirado algumas dúvidas sobre as
expectativas dos iniciantes, motoristas de carros, mães preocupadas
e aqueles que estão pensando em ter uma moto um dia.
Até a próxima!
E aí fiote, beleza?? Cara, muito legal seu relato é seja muito bem vindo ao mundo das motocicletas, você já está descobrindo o quão prazeroso é esse veículo...porém como seu amigo tenho que testar alguns pontos importantes...
ResponderExcluirPrimeiro, moto escola, ou auto escola não ensina praticamente nada do que realmente é controlar uns motocicleta, eles nos induzem a vários erros que em determinadas situações podem ocasionar uma queda.... Na minha humilde opinião o máximo que eles fazem é ensinar as leis de trânsito, se você quer realmente aprender a conduzir uma moto com segurança, procure um curso de pilotagem...
Realmente terrenos acidentados alteram a direção da moto mas não é segurando mais firme no guidão que você corrige isso é sim nas pernas...como você vai perceber a moto não se pilota somente com os braços mas sim com o corpo todo é um veículo mais complexo de se conduzir que um carro não é simplesmente acionar comandos é estipular direção todos os seus movimentos é ações influenciam no resultado final e farão a diferença entre estar em pé ou no chão...
Dica do capacete, entre muito do calor eu tenho resolvido deixando um dedo aberto na viseira, isso é suficiente para ventilar sem comprometer a segurança de entrar algo no capacete...Mas a sua sacada de baixar a frente está certa, esse é o mais correto mesmo...
Se você só sentiu os braços queimando devia estar sem jaqueta se não estaria sentindo queimar tudo, hehe hehe, Conselho use SEMPRE a jaqueta, existem alguns modelos chamados de verão que só de material sintético mas bem ventilado o que minimiza o calor mas protege demais, equipamento de proteção, sempre, no mínimo caça jeans, jaqueta, luvas e é claro capacete...
Uma coisa legal é que você já percebeu que na moto quem faz a segurança somos nós, é o que alguns jornalistas chamam de segurança ativa, e não passiva como nos carros, depende do condutor, ter uma conduta correta é se prevenir, ou prever o que pode acontecer é tomar medidas preventivas evasivas para evitar o acidente é não contar com a lata, air bag, cinto de segurança para se proteger das suas besteiras...
No geral acho que é isso, mas reforço, use bons equipamentos de segurança(não adianta comprar equipamento meia boca)
E faça um curso de pilotagem, eu fiz e digo, mudou minha pilotagem da água para o vinho, eu não sei como eu não tinha me matado até então andando de moto sem esse conhecimento...
Abração,
Leo.
Fala Leo, realmente esse negócio de moto me pegou e estou curtindo bastante.
ExcluirEsse seu feedback foi muito importante, principalmente a dica de curso de pilotagem. Com certeza eu vou atras disso!
Valeu, grande abraço!
Muito bom seu texto. Extremamente esclarecedor e bem informativo. Moro no interior e tenho os mesmos medos que você tem/teve. Comprei minha moto hoje é sinto que minha vida melhorará muito, pela praticidade que ela me proporcionará! Em breve deixo aqui mais notícias. E obrigado por compartilhar conosco suas experiências iniciais. Até mais ver.
ResponderExcluirMatheus
Olá gostaria de expor meus sinceros agradecimentos por sue explanação quanto ao primeiro contato com a MOTO. Eu estava sedento deste tipo de analise e comentário. E seu texto veio muito de encontro com minhas necessidades. Muito obrigado pela agradável leitura que estou utilizando como um mantra, uma oração para me preparar mentalmente para a jornada. Estou a poucos passos de comprar minha primeira moto e seu texto esta colaborando muito para minha segurança e autoconfiança.
ResponderExcluirAtenciosamente,
Diego Almeida
Olá!
ResponderExcluirAdorei a leitura, comprei minha moto a poucos dias em breve terei de usá-la para ir e voltar do trabalho. Estou muito ansiosa e com alguns medos. A leitura do seu texto ajudou muito em reduzir a minha ansiedade, obrigada! Parabéns pela iniciativa e redação.