sexta-feira, 18 de abril de 2014

Comprei minha primeira moto. E agora?

Quando eu resolvi tirar carteira de moto e, posteriormente comprar uma, obviamente houveram muitas expectativas. Uma das primeiras foi em relação aos gastos com estacionamento, abastecimento, manutenção e seguro; e a outra era em relação em como seria o meu uso da moto.

A princípio minha idéia era pilotar apenas aos finais de semana em percursos curtos, e ir aumentando a distância gradativamente. Em um futuro não muito distante, passar a usá-la para ir para o trabalho, nem que fosse apenas algumas vezes na semana, ou pelo menos no dia do rodízio do carro.

Como desde pequeno tive contato com motos, pois meu pai sempre teve uma, muitas outras expectativas já haviam automaticamente sido desvendadas. Mas ainda assim, meu contato com as duas rodas era como passageiro, e nunca como piloto.

Durante essa fase da minha vida, aprendi a me comportar na moto, imitando os movitmentos do piloto ao fazer as curvas, me mantendo firme e atento a movimentos bruscos e freadas e sem me movimentar demais para não comprometer o equilibrio do piloto.

Porém, mesmo já tendo uma certa experiência, isso tudo aconteceu no interior de São Paulo, e em um tempo em que o trânsito não era muito grande, as ruas eram razoavelmente boas e os carros não eram tão velozes e grandes. Cenário esse que era muito diferente dos dias atuais, quando comprei minha motoquinha 125 cilindradas na capital de São Paulo, onde o trânsito e a cidade são maiores, com carros mais potentes e grandes, e o que eu considero a pior mudança, sinto que os motoristas (e motoqueiros) são mais apressados e impacientes.

Não que isso seja uma crítica a São Paulo ou que eu esteja insinuando que o interior tenha um trânsito melhor. Mas qualquer um que conheça bem a capital em comparação às cidades do interior sabe que São Paulo (e creio que o mesmo ocorra em outras capitais) tem um ritmo bem mais acelerado por natureza. Muita coisa acontece aqui, começa aqui, e culturalmente as pessoas tem essa pressa para tudo, seja no metrô, nas ruas ou nas empresas. Eu sei que muita gente acha isso um ponto negativo, assim como muitos paulistanos que conheci nesses quas 14 anos comumente dizem que “aqui é assim mesmo”. Enfim, apenas um esclarecimento para evitar mal entendidos :)

A verdade é que, estando em uma grande cidade ou não, o primeiro contato real com uma moto após sair da auto escola é empolgante e ao mesmo tempo tenso.
Pelo menos aqui em São Paulo, no tempo em que fiz as aulas de pilotagem, o aprendizado é bastante focado no equilíbrio e destreza na hora de fazer as curvas, saber a hora de reduzir a velocidade e de acelerar e controlar a embreagem em conjunto.
Até mesmo no dia da prova, não passamos da primeira marcha, não é preciso dar seta e nem há contato com o trânsito da rua. Creio que este último seja por não haver uma maneira de se controlar a moto com um segundo jogo de embreagem e freios como acontece em carros de auto escola, no lado do passageiro.

Por mais óbvio que esses detalhes possam parecer, muitos deles não passaram pela minha cabeça até eu  comprar a moto, que no meu caso era usada, e tive que viajar, logo de cara, da casa do ex dono até a minha casa. E não era um trajeto muito pequeno, além de ser um percurso que eu não conhecia quase nada! Ah, e eu esqueci completamente de comprar um capacete, que se não fosse pelo meu sogro ter me lembrado um dia antes de eu buscar a motoca, teria que acabar adiando para outro dia para buscar a pequena.

Então, lá estava eu, super feliz com a nova aquisição! Pedi algumas orientações básicas ao ex dono, que foi muito solícito (e continua sendo até hoje) e parti para o meu primeiro grande desafio! Agora era apenas eu, sozinho, sem instrutor, sem poder andar só de primeira marcha, no meio de um monte de carros, longe de casa, e que eu nem sabia exatamente para que direção estava!

Decidi que adotaria a mesma estratégia que usei quando comecei a andar de carro: andar tranquilamente pela faixa da direita em velocidade reduzida. Tentei pegar o máximo de semáforos fechados possível, pois assim teria tempo de pensar melhor no trajeto que acabara de passar, os pequenos erros que cometi, se era seguro acelerar um pouco mais, acertar o retrovisor da melhor maneira possível, etc.

Comecei a sentir uma dificuldade enorme entre olhar para frente e para o painel da moto e retrovisores. Na auto escola normalmente não tinha preocupação em olhar para outro lugar que não fosse a pista, pois nem para o retrovisor eu precisava olhar. Descobri que estava usando o capacete de forma incorreta, tentando manter a sua base em paralelo com meus ombros. Reparei em outros motoqueiros com capacetes semelhantes que ele deveria ficar bem encaixado à cabeça e que a parte de baixo deveria proteger bem o meu queixo, com sua base em um ângulo de uns 30 graus em relação ao meu ombro. Então consegui ver com perfeição o trânsito e o painel sem ter que abaixar tanto a cabeça.

Meu primeiro grande inimigo foram os motoristas impacientes e apressados, que buzinaram muitas vezes quando eu deixava a moto morrer ao sair quando o semáforo abria, ou outros motoqueiros que ficavam acelerando a moto incessantemente quando eu ficava no caminho deles. Se isso já me incomoda quando estou no meu carro, imagine estando pela primeira vez em cima de uma moto! Senti uma pressão enorme, mas com o passar do trajeto, comecei a ignorá-los e a relaxar mais, ficando mais concentrado no trânsito, e gradativamente corrigindo meus erros.

Andei do começo ao fim como se estivesse de carro, sem andar no corredor, nem tentar ultrapassar outros veículos ou fazer qualquer manobra básica para uma moto.
Como nunca havia trocado de marcha, senti uma certa dificuldade, já que a primeira marcha é para baixo, e as demais para cima, sendo o ponto morto (ou neutro, como a maioria das pessoas gosta de dizer) entre a primeira e segunda marchas.
Senti um pouco de dificuldade em manusear as marchas na hora de reduzir a velocidade e parar a moto, que diferente dos carros, não dá para pular de qualquer marcha para o ponto morto, e sim ter que ir descendo até a segunda marcha e, finalmente, para o ponto morto.

Foi então que percebi uma outra dificuldade, que era achar o ponto exato entre a primeira e segunda marchas para deixar em ponto morto. (Para ser sincero, ainda tenho um pouco de dificuldade...).
Como estava preocupado com o trânsito, optei por deixar a moto engatada com a embreagem pressionada, mesmo sabendo que é uma má prática que acaba comprometendo a “saúde” da moto (e também do carro), mas naquele momento essa era a minha melhor aposta.

Outra novidade foi o uso da seta, que não era necessário na auto escola. Não demorou muito para me acostumar a usá-la. O problema foi na hora de deixar de usá-la, pois, diferente dos carros, onde a seta desliga automaticamente quando a direção gira no sentido contrário ao da seta, na moto esse processo era manual. Aposto que muitas buzinadas e aceleradas que tomei de outros motoristas foram por ter ficado vários quarteirões com a seta ligada!

Quando já estava há poucos kilometros de casa, peguei um semáforo demorado, e senti meus braços e cabeça queimando por causa do sol. De carro isso não seria um problema, pois eu estaria coberto contra o sol, sem contar que poderia ligar o ventilador (que pena que não tenho ar condicionado...).
Nesse momento, me lembrei de que a viseira do capacete pode ser aberta com a moto parada, e não pensei duas vezes! Também descobri que o semáforo vermelho é uma boa hora para relaxar o corpo, esticar as pernas e braços e me ajeitar no banco.

Conforme as lições aprendidas na auto escola, não deixei o pé direito no chão, mas logo percebi que isso não era muito prático, já que, com a moto parada, o câmbio de marchas fica do lado esquerdo, e que eu poderia manter a moto parada com o freio da mão direita. No final das contas isso não fez tanta diferença, já que eu estava mantendo a moto engatada com a embreagem puxada, mas imaginei que em breve teria que aprender a deixá-la em ponto morto, e que com isso, teria que ficar com o pé direito no chão para engatar a primeira marcha no momento em que o semáforo abrisse.

Quando estava quase chegando em casa, percebi outra novidade: o asfalto acidentado e cheio de buracos faziam a moto trepidar as vezes, ou se deslocar levemente para o lado. Por muito tempo depois do primeiro dia, achei que a moto poderia estar com algum problema, até aprender que era normal, e que eu precisava manter as mãos mais firmes no guidão quando fosse passar em áreas mais acidentadas.

Finalmente, cheguei em casa, são e salvo, e bastante aliviado. Passei as horas seguintes pensando no primeiro passeio, e conclui que, visto que estou na grande selva de pedras que é São Paulo, o trânsito frenético e seus motoristas desesperados, e a grande fama que as motos carregam, tudo ocorreu bem melhor do que eu esperava.
Os outros motoristas são bem menos monstruosos do que eu esperava. A minha pilotagem foi bem mais suave do que eu achei que seria.
No final das contas, a maioria das minhas preocupações foram tranquilas ou nem aconteceram, porém, tive pequenas surpresas das quais eu não contava, mas que também foram muito tranquilas.

É claro que a cada vez que eu saio de moto, aprendo uma coisa nova, uma manobra nova, aumento mais a minha segurança na pilotagem, mas de maneira geral, andar de moto é muito mais simples do que a maioria das pessoas pensa que é.

Não dá pra negar que em cima de uma moto o condutor fica bem mais exposto do que em um carro, mas não concordo quando as pessoas dizem que qualquer acidente com a moto é fatal. Assim como no caso dos carros, se o condutor for responsável e cauteloso, nenhum acidente irá acontecer, ou, caso aconteça, não deve ser fatal.

Quando eu vejo um motoqueiro andando a 80 km por hora em um corredor estreito, eu acho que aquela pessoa está correndo um grande risco, e que se ele ou um outro motorista cometer um erro, o motoqueiro certamente levará a pior.

Ainda podemos ser vítimas de terceiros, ou seja, um ou mais veículos com motoristas negligentes que acabam comprometendo outras pessoas que não tinham nada a ver com o acidente. Para mim, esse é o grande desafio do bom motoqueiro: saber prever os movimentos dos outros carros, se certificar de tudo que está acontecendo à sua volta, e SEMPRE respeitar as leis de trânsito. O que para um condutor de carro pode representar uma simples multa e alguns pontinhos na carteira, pode custar a vida de um motoqueiro.

Se você está considerando adquirir uma moto algum dia, mas ainda tem medo, a minha sugestão é que você faça todas as aulas de pilotagem na auto escola, bombardeie o seu instrutor de perguntas, mesmo que elas não tenham relação com a prova.
Se não se sentir seguro, faça mais aulas do que as obrigatórias, e quando se sentir confiante, faça a prova. Não tenha pressa, não se baseie pela experiência dos outros ou o quão rápido eles passaram na prova. Cada pessoa tem um ritmo, preocupações e medos diferentes.
Se depois de tudo isso você ainda não sentir firmeza, espere um tempo e repense se você acha ou não uma boa idéia andar de moto. O mais importante é sentir prazer e reconhecer as vantagens de se andar de moto. Se você não sentir isso, não arrisque a sua vida, e seja feliz!

Espero ter esclarecido bastante sobre os primeiros passos com a motoca, e tirado algumas dúvidas sobre as expectativas dos iniciantes, motoristas de carros, mães preocupadas e aqueles que estão pensando em ter uma moto um dia.

Até a próxima!

5 comentários:

  1. E aí fiote, beleza?? Cara, muito legal seu relato é seja muito bem vindo ao mundo das motocicletas, você já está descobrindo o quão prazeroso é esse veículo...porém como seu amigo tenho que testar alguns pontos importantes...

    Primeiro, moto escola, ou auto escola não ensina praticamente nada do que realmente é controlar uns motocicleta, eles nos induzem a vários erros que em determinadas situações podem ocasionar uma queda.... Na minha humilde opinião o máximo que eles fazem é ensinar as leis de trânsito, se você quer realmente aprender a conduzir uma moto com segurança, procure um curso de pilotagem...

    Realmente terrenos acidentados alteram a direção da moto mas não é segurando mais firme no guidão que você corrige isso é sim nas pernas...como você vai perceber a moto não se pilota somente com os braços mas sim com o corpo todo é um veículo mais complexo de se conduzir que um carro não é simplesmente acionar comandos é estipular direção todos os seus movimentos é ações influenciam no resultado final e farão a diferença entre estar em pé ou no chão...

    Dica do capacete, entre muito do calor eu tenho resolvido deixando um dedo aberto na viseira, isso é suficiente para ventilar sem comprometer a segurança de entrar algo no capacete...Mas a sua sacada de baixar a frente está certa, esse é o mais correto mesmo...

    Se você só sentiu os braços queimando devia estar sem jaqueta se não estaria sentindo queimar tudo, hehe hehe, Conselho use SEMPRE a jaqueta, existem alguns modelos chamados de verão que só de material sintético mas bem ventilado o que minimiza o calor mas protege demais, equipamento de proteção, sempre, no mínimo caça jeans, jaqueta, luvas e é claro capacete...

    Uma coisa legal é que você já percebeu que na moto quem faz a segurança somos nós, é o que alguns jornalistas chamam de segurança ativa, e não passiva como nos carros, depende do condutor, ter uma conduta correta é se prevenir, ou prever o que pode acontecer é tomar medidas preventivas evasivas para evitar o acidente é não contar com a lata, air bag, cinto de segurança para se proteger das suas besteiras...

    No geral acho que é isso, mas reforço, use bons equipamentos de segurança(não adianta comprar equipamento meia boca)

    E faça um curso de pilotagem, eu fiz e digo, mudou minha pilotagem da água para o vinho, eu não sei como eu não tinha me matado até então andando de moto sem esse conhecimento...

    Abração,

    Leo.

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    1. Fala Leo, realmente esse negócio de moto me pegou e estou curtindo bastante.
      Esse seu feedback foi muito importante, principalmente a dica de curso de pilotagem. Com certeza eu vou atras disso!

      Valeu, grande abraço!

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  2. Muito bom seu texto. Extremamente esclarecedor e bem informativo. Moro no interior e tenho os mesmos medos que você tem/teve. Comprei minha moto hoje é sinto que minha vida melhorará muito, pela praticidade que ela me proporcionará! Em breve deixo aqui mais notícias. E obrigado por compartilhar conosco suas experiências iniciais. Até mais ver.
    Matheus

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  3. Olá gostaria de expor meus sinceros agradecimentos por sue explanação quanto ao primeiro contato com a MOTO. Eu estava sedento deste tipo de analise e comentário. E seu texto veio muito de encontro com minhas necessidades. Muito obrigado pela agradável leitura que estou utilizando como um mantra, uma oração para me preparar mentalmente para a jornada. Estou a poucos passos de comprar minha primeira moto e seu texto esta colaborando muito para minha segurança e autoconfiança.

    Atenciosamente,
    Diego Almeida

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  4. Olá!
    Adorei a leitura, comprei minha moto a poucos dias em breve terei de usá-la para ir e voltar do trabalho. Estou muito ansiosa e com alguns medos. A leitura do seu texto ajudou muito em reduzir a minha ansiedade, obrigada! Parabéns pela iniciativa e redação.

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